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© Fernando Maia da Cunha - Photography /  fernandomaiadacunha@gmail.com

Limbo

Desde 2013 meu olhar se voltou para a Comunidade Trilha do Senhor em Fortaleza. Como flâneur passava pela Via expressa, e por mim surgiam potenciais narrativas que levavam a possíveis e pretensiosas ideias para ensaios.

 

Tudo era imageticamente rico, eram enormes as possibilidades, mas, eu era como um passageiro que olha pela janela do prometido VLT que havia surgido como arauto da modernidade de uma cidade que se preparava para a copa do mundo de 2014. “Viva a mobilidade urbana!”, gritavam as estruturas governamentais. Por outro lado, bem baixinho, expressavam os moradores “Não queremos sair daqui, aqui é nosso lar!”. Esse grito me tocou e, ao adentrar naquela comunidade percebi união, identidade e resistência, palavras que definem a base do ensaio fotográfico “Limbo”.

 

A princípio estava interessado no rastro, na ausência, nas imagens das casas, nas ruínas, nos destroços. No entanto, duas frases que delinearam o trabalho: a primeira do poder público, "Esses locais mais densamente ocupados, precisamos trabalhar mais intensamente na retirada dos moradores" e, a segunda de um morador, “Lembrança da minha casa só por foto”.

 

Conviver e me envolver, me fez perceber a dor emocional causada pelas desapropriações, perder suas casas era perder a identidade, desconstruir a memória. Eu e do outro, é da alteridade que todo relacionamento humano toma o sentido mais completo. A moradia potencializa a formação da identidade, isso tornou-se perceptível convivendo com aqueles que já haviam perdido suas casas, e com aqueles que esperavam a derradeira ordem de desapropriação.

 

A proposta deste ensaio é investigar espaço fluido entre o que vemos e o que nos olha, entender como emocionalmente somos deportados de lugar e atravessamos as fronteiras da memória, transformando a relação de pertença e a desconstrução da memória em novos lugares distantes do nosso lugar de afeto  através do embate com o imponderável resultante das mutilações e mutações da cidade em “desenvolvimento”.

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